Sua urina pode ser a chave para alimentar o mundo; entenda

Laura Alvarenga

6 de maio de 2022

Embora pareça ser algo bizarro, a urina humana pode ser um dos fertilizantes de plantações mais poderosos, se tornando a chave para alimentar o mundo em plena era de agricultura industrial. A urina tem sido tema de estudos intensivos em meio ao desejo de reduzir e até mesmo cessar a dependência de produtos químicos no combate à poluição ambiental. 

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Sua urina pode ser a chave para alimentar o mundo

Sua urina pode ser a chave para alimentar o mundo. (Imagem: Pixabay)

Fabien Esculier, diretor do Programa de Pesquisa e Ação sobre Sistemas de Alimentação/Excreção e Gestão de Urina Humana e Fezes, é um dos estudiosos sobre o tema. Segundo ele, as plantas necessitam de nutrientes como o nitrogênio, fósforo e potássio. Isso quer dizer que nós ingerimos todos esses componentes diariamente antes de eliminá-los através da urina

Isso sem contar o nitrogênio sintético, que já tem sido usado há, pelo menos, um século em uma vasta gama de fertilizantes. Eles auxiliam no crescimento de rendimentos e na produção agrícola com foco na alimentação dos humanos que aumenta cada vez mais. Entretanto, é preciso ter cuidado, pois o uso excessivo é capaz de fazer com que esses produtos contaminem os sistemas fluviais e demais vias de navegação. 

O resultado seria o sufocamento das algas, bem como o envenenamento de peixes e demais formas de vida aquáticas. Além do mais, os fertilizantes químicos também geram emissões de gases de efeito estufa, contribuindo para as mudanças climáticas. Para a pesquisadora do Instituto Terra Rica dos EUA, Julia Cavicchi, as práticas modernas de saneamento representam uma das principais fontes de poluição de nutrientes. 

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Em entrevista ao site France 24, Cavicchi apontou a urina como responsável por, aproximadamente, 80% do nitrogênio encontrado em águas residuais e por mais da metade do fósforo. De acordo com a especialista, a substituição de fertilizantes químicos requer muitas vezes o peso da urina tratada. 

“Mas, uma vez que a produção de nitrogênio sintético é uma fonte significativa de gases de efeito estufa, e o fósforo é um recurso limitado e não renovável, os sistemas de desvio de urina oferecem um modelo resiliente a longo prazo para o gerenciamento de resíduos humanos e a produção agrícola”, ponderou a especialista. 

Coleta seletiva de urina

Julia lembrou que em tempos antigos, excrementos urbanos como a urina eram transportados para campos agrícolas, onde eram usados como fertilizantes junto ao estrume animal. Esta era a principal alternativa antes do surgimento de químicos que se tornaram substitutos. Agora, quem tiver o interesse de coletar urina na fonte, deve repensar os banheiros e o sistema de esgoto no geral.

Hoje já existe uma série de projetos com foco na coleta seletiva de urina, como na Suíça, Alemanha, Estados Unidos da América (EUA), Etiópia, África do Sul, Índia, México e França. Entretanto, a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Aquática Eawag, da Suíça, Tove Larse, disse que o período de introdução de inovações ecológicas, sobretudo métodos de seleção de urina, são vistos como medidas extremamente radicais. 

Segundo Tove, a coleta de urina em banheiros seletivos sempre foi considerada um método impraticável por gerar preocupações, especialmente a respeito de odores desagradáveis. Neste sentido, um novo modelo foi desenvolvido pela empresa suíça, Laufen, em parceria com a Eawag, prometendo resolver todos esses problemas e com um design que canaliza a urina em um recipiente coletor. 

Neste modelo, logo que a urina é coletada, ela deve ser processada. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que a urina coletada “descanse” por um determinado período, apesar da possibilidade de pasteurização. Na sequência, é preciso aplicar técnicas de concentração e desidratação do líquido. O resultado é a diminuição do volume e o custo de transporte para os campos.

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Laura Alvarenga
Escrito por

Laura Alvarenga

Laura Alvarenga é graduada em Jornalismo pelo Centro Universitário do Triângulo em Uberlândia - MG. Iniciou a carreira na área de assessoria de comunicação, passou alguns anos trabalhando em pequenos jornais impressos locais e agora se empenha na carreira do jornalismo online através do portal FDR e Bit Magazine, onde pesquisa e produz conteúdo sobre economia, direitos sociais e finanças e tecnologia.