Não caiu bem um buraco negro “vomitando” uma estrela; cientistas estão confusos, o que isso significa?

Hugo Cruz

19 de outubro de 2022

Conhecido por seu apetite voraz, devorando tudo ao seu redor, os buracos negros são corpos celestes massivos com uma gravidade tão forte que nem as estrelas ficam a salvo. Eles são responsáveis por alguns dos fenômenos mais interessantes da astronomia e pela primeira vez, pesquisadores captaram uma imagem inusitada de um buraco negro “vomitando” pedaços de uma estrela engolida apenas alguns anos antes.

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Buraco negro “vomitando” uma estrela? Cientistas não tem ideia do porquê isso está acontecendo!

Buraco negro “vomitando” uma estrela? Cientistas não tem ideia do porquê isso está acontecendo! – Imagem: Reprodução / Centro de Astrofísica Harvard & Smithsonian

O que são buracos negros?

Você pode pensar neles como pontos no universo onde a matéria é tão densa (concentrada em um ponto minúsculo em escalas astronômicas) que gera um campo gravitacional gigante.

Eles têm uma relação intrínseca com as estrelas, já que podem ser formados devido à morte de estrelas supermassivas. No que diz respeito ao seu tamanho, eles podem vir em diâmetros variados, acreditá-se que os buracos negros podem ir do tamanho de um átomo a até poucos quilômetros de diâmetro.

Sua característica mais marcante é a massa, milhões de vezes maior do que a de um Sol. Isso significa que eles são super densos, resultando no campo gravitacional tão forte que proporcionam até um “horizonte de eventos”, um ponto onde nenhum objeto — asteroides, planetas, luz, estrelas, etc. — consegue escapar.

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Atualmente, os pesquisadores acreditam que praticamente todas as galáxias têm um buraco negro supermassivo — com dezenas de bilhões de vezes de massas solares — em seu centro.

Cientistas descobrem buraco negro “vomitando” uma estrela

Intrigando astrônomos do mundo inteiro, cientistas do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian, nos Estados Unidos, registraram o momento em que um buraco negro super massivo “vomitou” restos de uma estrela que havia engolido.

Embora esse não seja um evento muito raro no mundo da astronomia, o curioso aqui é espaço de tempo entre os acontecimentos. Geralmente, os buracos negros ejetam o material “extra” a velocidades absurdas assim que terminam de engolir as estrelas, mas dessa vez ele levou 3 anos para fazer isso.

Isso nos pegou completamente de surpresa“, disse a pesquisadora e principal autora de um novo  estudo publicado no The Astrophysical Journal, Yvete Cendes. “Ninguém nunca viu nada assim antes.

Analisando a “dieta” do buraco negro, foi possível concluir que a última coisa da qual se alimentou foi uma estrela pequena em 2018, em uma galáxia a 665 milhões de anos-luz da Terra.

Como ocorre em casos assim, a estrela passou por um processo de “espaguetificação”, quando sua matéria é sugada constantemente em força crescente, transformando toda a matéria em algo esticado, com a ponta “interna” recebendo forças crescentes em relação à matéria próxima ao limite do horizonte de eventos. 

Três anos depois!

Como depois disso não foi possível avistar nenhuma atividade vinda do buraco negro, ele foi considerado adormecido, mas em junho de 2021, ele foi misteriosamente reanimado. As causas ainda são incertas, mas usando tudo o que tinha à sua disposição a equipe fez observações incríveis.

Fizemos aplicações em múltiplos telescópios para Tempo Discricionário de Diretor, usado quando encontramos algo inesperado e não podemos esperar pela fila de propostas comum para observá-lo“, disse Yvete. “Todas as aplicações foram aceitas imediatamente.

Durante as TDEs (evento de interrupção das marés, ou “consumo de estrelas”) é normal que os buracos negros brilhem. A espaguetificação da estrela faz com que jatos de plasma se acelerem ao redor do buraco negro, produzindo um flash extremamente brilhante, que pode ser captado por telescópios.

Às vezes descobrimos que elas brilham em ondas de rádio enquanto vomitam material durante o consumo da estrela pelo buraco negro”, disse Edo Berger, professor de astronomia e coautor do estudo.

Mais mistérios cercando o “vômito” da estrela pelo buraco negro

Além de vomitar o material só três anos depois, começando a brilhar nesse período, outra coisa intriga os pesquisadores, a velocidade extraordinária com que os restos estão sendo ejetados.

Geralmente, durante a ejeção os materiais viajam a velocidades de cerca de 10% da velocidade da luz, o que não é nada devagar, mas nesse caso o material sendo jogado para fora estava viajando a 50% da velocidade da luz, cerca de 150 mil metros por segundo.

Os pesquisadores ainda não entendem o motivo para o “atraso” na digestão da estrela, mas acreditando que esse pode ser um evento relativamente comum, eles decidiram estudar outros TDEs inativos para ver se algo do tipo já aconteceu, ou está acontecendo.

“O próximo passo é explorar se isso realmente acontece com mais regularidade e simplesmente não temos olhado para TDEs tarde o suficiente em sua evolução”, disse Belger.

Caso os estudos gerem frutos, é possível que passemos a compreender os buracos negros de uma maneira jamais pensada antes, dando ainda mais luz sobre a origem do universo.

Fontes: The Astrophysical Journal, Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian

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Hugo Cruz

Redator Profissional, Comunicador Social e especialista em Produção de Conteúdo Web. Formado em Letras - Inglês e Administração. CEO da Agência Digital Comunicalize.